Oficialmente velha

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Minha primeira dificuldade em me adaptar a um formato novo de rede social começou a aparecer há uns dez anos, quando conheci o tumblr; e enfim se consolidou nesta década, quando percebi que o tiktok realmente não é pra mim e - pela primeira vez desde que me lembro - enfim gozei do meu direito de não me cadastrar numa plataforma emergente (eu, que já tive conta no plurk, no ello, no pillowfort e em qualquer buraco promissor no qual eu pudesse cadastrar um username). Desde que parei de usar o Instagram, me dei conta de que realmente não faz diferença compartilhar uma centena de informações particulares, coisinhas do cotidiano, que antes eu fazia com tanta naturalidade: eu estava sempre esperando algum tipo de engajamento, que no fim das contas sempre acabava sendo uma meia duzia de interações genéricas mediadas por algum formato específico de ferramenta, que nunca permitia que eu mantivesse uma conversa propriamente dita e que eu sequer precisava. Imagina ter que manter isso por meio de vídeos (que sempre requerem uns vinte minutos de edição)? Nope, Emi out.

Nessa semana acompanhei a comoção que tomou conta do Twitter enquanto os millenials descobriam que eram completamente cafonas aos olhos da geração mais nova e que coisas como gostar de Friends, desenhos Disney, saber sua casa de Hogwarts e usar calça skinny com sapatilha de bico redondo nunca estiveram tão em baixa. Acho que já era hora: meus contemporâneos já estão rodeando os trinta anos, faz muito tempo que ninguém me convida pra uma formatura de graduação e estou tempo suficiente fora da escola pra que as coisas que aconteceram "na minha época" realmente sejam desconhecidas pra geração atual. Se nada disso fosse suficiente pra jogar a passagem do tempo na minha cara, finalmente começaram a surgir fios insistentes de cabelo branco na minha cabeça, batendo definitivamente o prego de não sou mais uma jovenzinha.

Antes que o leitor tente me consolar com frases do tipo "a idade é um estado de espírito", eu tampouco quero ser jovem, no sentido completo da palavra. A juventude implica ânimo e disposição pra acolher todas as novidades, coisa que eu já não tenho mais. Esses dias também comentei com o Digníssimo que parece que a indignação adolescente que sentia quando via algo que eu discordava foi desaparecendo com a maturidade, e deu lugar a um aborrecimentozinho preguiçoso. Não sei se isso é bom ou ruim, mas gosto do fato de gastar muito menos energia psíquica com abobrinha que, na prática, faria pouca ou nenhuma diferença na minha vida. Quanto mais o tempo passa, mais me sinto confortável em ser quem eu sou, e isso é uma boa compensação ante o fracasso em acompanhar todas as novas coisas maravilhosas do momento e os altos e baixos emocionais que elas me proporcionariam. Descobri que gosto mesmo de artes e artesanatos, ainda que esse não seja meu ganha pão; que não preciso dar nenhum tipo de satisfação por não fazer dos meus hobbies coisas produtivas (às vezes eu tenho preguiça, e tudo bem) e que ainda gosto (e provavelmente gostarei pro resto da vida) de joguinhos de construir casinha e vestir personagem. Ser quem eu deixou de ser um grande exercício torturante e enfim começa a ficar prazeroso, e são essas as coisas nas quais me refugio quando a vida ainda fica torturante (porque é a vida, essa montanha russa infernal, que joga uma pandemia mortal no ano em que você ia casar, viajar pra fora do país, etc). Foi pensando nessas coisas que concluí que quero ter um blog de novo.

O problema: ninguém mais mantém blogs. As pessoas não lêem mais blogs - nem eu mesma leio. Fico presa nesse conflito de ceder ao feed das redes sociais que estão a dois toques de distância e me oferecem um pouquinho de entretenimento imediato ao invés de lembrar de acessar um site maneiro, que muito provavelmente tem mais a ver comigo e com meus interesses, no qual não encontrarei anúncios, lacração descontextualizada nem a burrice alheia esfregada involuntariamente na minha cara. Também tenho a impressão sincera de que desaprendi a blogar, uma ideia acompanhada pela noção de que isso aqui precisa ter algum tipo de proposta editorial e indicativos que sou uma pessoa normal e confiável falando sobre a minha vida - quando na verdade, o que eu mais queria era ler o diário virtual dos outros e o blog que mais deu certo na minha vida é exatamente um grande diarinho sem critério nenhum. 

Talvez eu ainda precise me sentir mais confortável comigo mesma pra poder escrever banalidades num site sem nenhum propósito aparente além de me conectar com pessoas que compartilham os mesmos interesses que eu, mas por enquanto, o esforço que estou fazendo é esse. Tomara que eu consiga falar de outras coisas aqui também!

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  1. Oi Emi! Eu também já desisti há tempos de acompanhar essas novas redes sociais. Aliás, até as mais antigas eu parei (instagram, facebook). Não tenho mais paciência pra aprender e sinceramente acho que só me trazem ansiedade.

    Os blogs ainda são o meu refúgio. E mesmo com a baixa das postagens estilo diarinho, ainda dá pra encontrar muitos blogs inspiradores, que não têm aquela pretensão de querer crescer. E eu percebo que ler um post assim me acalma e me inspira a romantizar a minha própria vida.

    Ps. eu adoro a ideia de "um grande diarinho sem critério nenhum."

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  2. Menina, me abraça??? Também dei um tempo das redes sociais em geral, o que melhorou minha qualidade de vida cem por cento. Mas tô perdida na blogosfera e não encontro mais nenhum canto pra poder ler os posts (no nosso tempo) e bater um papo. Obrigada pela sua visita ❤️ ansiosa pra conhecer seu blog também!

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  3. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA estou tão feliz de ver você tentando de novo :3
    ultimamente eu tenho mudado um pouco minhas relações com as redes sociais, o instagram eu tenho uma conta aberta pq já tem muitos parentes lá, mas estava pensando em deixar lá pra distraí-los e abrir um perfil fechado pra postar fotos sem compromisso e meus rebiscos ocasionais... o twitter eu já uso pra soltar fragmentos dos meus delírios pontuais e o blog está se tornando meu novo amorzinho, um diário também sem pretensão e pra me ajudar com meus problemas de memória. o resto virou um grande amontoado de referências de imagens e gifs.
    eu sei que é difícil e que a gente se cobra qualidade o tempo todo, mas eu sinceramente quero deixar as coisas o mais casuais possíveis. acho q já deu desse delírio coletivo dos influencer.

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